Humor, ousadia e crítica social. Essas têm sido as constantes nas coleções do mineiro Ronaldo Fraga, de 36 anos, que, temporada após temporada, dedica-se a contar "histórias absurdas do homem comum", como ele próprio define.
Graduado em estilismo pela Universidade Federal de Minas Gerais no início dos anos 90, passou os anos seguintes especializando-se no exterior. Em Nova York, cursou a Parson's School com a bolsa que recebeu por ter vencido um concurso da empresa têxtil Santista.
Em Londres, aprendeu chapelaria na Saint Martins e, junto com o irmão, abriu uma pequena produção de chapéus, vendidos nas famosas feiras de Camden Town e Portobello. Com a renda do negócio, viajou toda a Europa.
Em 1996, veio ao Brasil para participar do Phytoervas Fashion, em São Paulo, em uma das primeiras edições. O desfile "Eu Amo Coração de Galinha", colorido e alegre, surpreendeu a todos numa época em que o espírito clean ditava a moda.
Viriam mais duas participações e a volta em definitivo ao Brasil. No último Phytoervas Fashion, em 1997, com a coleção "Em Nome do Bispo", inspirada na obra do artista Arthur Bispo do Rosário, ganhou o prêmio de estilista revelação. Ainda em 1997, Fraga lançou a sua marca própria.
Na Semana de Moda - Casa de Criadores, que passou a integrar em seguida, abordou temas como a cópia no mundo da moda e religiosidade. Na derradeira participação nesse circuito, em 2000, fez uma dobradinha com Jum Nakao. Com o desfile "A Carta", ambos homenagearam um ao outro.
Em 2001, Fraga foi convidado a entrar no São Paulo Fashion Week e desde então desfila nas duas edições anuais do evento. Logo na segunda participação, as roupas para o verão 2001-2002, inspiradas em Zuzu Angel, foram indicadas como melhor coleção feminina de 2002 para o prêmio Abit - Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
Na edição seguinte, o estilista causou grande impacto ao apresentar as roupas de inverno em estruturas de metal com um sistema de roldanas que trocava os modelos por bonecos de madeira. Vieram, ainda, um desfile de cunho social, cujas roupas foram bordadas por presidiários, e um outro baseado no artesanato do Vale do Jequitinhonha.
A música inspirou as duas coleções mais recentes. No penúltimo São Paulo Fashion Week, o cantor gaúcho Lupicínio Rodrigues foi o mote. E em julho último, uma homenagem ao tropicalismo e ao cantor Tom Zé no desfile intitulado "São Zé". Para a primeira edição, em janeiro de 2005, o estilista promete um desfile inspirado no poeta Carlos Drummond de Andrade.
As roupas de Ronaldo Fraga são vendidas em duas lojas próprias, uma em Belo Horizonte e outra em São Paulo, e em 30 multimarcas espalhadas pelo Brasil. Seu showroom em São Paulo fica na "Lei Básica", loja de marca capixaba que Fraga é responsável pelo conceito desde 2001.
O público que procura essas roupas? "Pessoas que têm um domínio da própria história", diz o estilista. "Sejam adolescentes ou senhoras".
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