O que é beleza?

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beleza através dos tempos

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Moda,Corpo, Trasformação e Morte



De acordo com o livro de Alexandre Herchcovitch, o qual, fala de suas criações e de suas histórias e suas metáforas para a caveira que é um objeto tão evidente nas coleções do autor, achei evidências interessantes que mostram simpatia e ligação com dizeres de Walter benjamin, que por coincidência é um dos meus pensadores favoritos, por que n

não dizer ídolo? Ele pensa no tempo dele mas é como se estivesse no tempo do hoje , então resolvi retirar grande parte do livro para entendermos como a moda, o corpo estão em constante transformação, e são cheios de paradoxos: " madame morte! Madame Morte! " essa é a moda... e por consequencia, esse é o corpo, justamente por que ele envelhece e com o tempo se modifica, ou justamente por que ele é cultuado de tal forma que com tamanha rapidez ocorre uma certa " morte" da identidade de quem era aquela pessoa X que tanto de multilou... ou se embelezou?


Herchcovitch, de forma inusitada cria laços com a morte, com adornos mitificados.Esse gosto se estende ao adorno pessoal. Entre as tatuagens de Herchcovitch no braço, vê-se a longilínea e lúgubre imagem de Mortícia - a matriarca da família Addams,ou de outra personagem que seria a "Senhora Morte". Então entra-se a fundo, no corpo do próprio estilista que é tatuado com símbolos que tem muito em comum com as roupas feitas por ele para outros corpos, no corpos do vestirem....


E o que não é o corpo, as metamorfoses do corpo? Muda-se, morre-se uma parte e renasce outra parte que se esquece da outra. Se faço plástica, morri e deixei para trás um outro eu, um outro corpo, sim é a morte. Da mesma forma, a moda, é lançada em 2008 e em 2009, esquece-se o que já passou, morreu, o que vestíamos para trás ficou às moscas... As lavras comeram e não podemos retornar se não mudarmos e tornarmos o resto descartável... Essa é a Lógica...


Abaixo um grande trecho retirado do livro que achei importante ao relacionar estilistas Brasileiros à minha pesquisa:


Walter Benjamin escolheu essas palavras do "Diálogo entre a moda e a morte", de Leopardi, como epígrafe para as reflexões e citações que faz a respeito da moda em seu Árcades Project. A seguir, ele insere uma citação dos Pensées, de Balzac: "Nada morre; tudo é transformado".'


A moda está cheia de paradoxos. Nada exorta a mudança tão incessantemente quanto ela, ainda que, ao mesmo tempo, opere para disfarçar e mitigar os efeitos da idade. Benjamin viu aí uma dialética entre mulheres e mercadorias. Mas, se por um lado a mudança faz lembrar a todo ins­tante a mortalidade, por outro, ela não apenas ironiza a morte como também a trapaceia:


" A moda nunca foi nada além de uma paródia do cadáver bufão, de uma provocação à morte feita pela mulher, de um colóquio amargo com a decadência, sussurrado entre explosões estridentes de gargalhadas mecânicas. Eis o que é a moda. E é por isso que muda com tanta rapidez: ela incita a morte e já é algo diferente, algo novo, que nesse mesmo instante se prepara para esmagá-la". 2


No passado, os monges usavam os ossos dos companheiros para decorar celas e capelas — um dos mais estranhos, mas mais palpáveis, memento mori. Hoje, encontram-se herdeiros dos memento mori em todos os cantos: na cultura popular, na rua, em casa (não apenas entre a parafernália de godos e vampiros mas também em adereços, filmes, vídeos, jóias e jogos infan­tis - os cenários sombrios dos romances góticos de horror, por exemplo, servem de matéria- prima para brinquedos e jogos, como Dungeons & Dmgons). Herchcovitch guarda, entre seus pertences pessoais - meticulosamente ordenados -, uma maravilhosa e macabra coleção de caveiras e esqueletos que inclui desde modelos de anatomia a calaveras mexicanas, de uten­sílios em forma de crânio (descendentes distantes das taças usadas por astecas e vikings) a um castelo-caveira, cenário de um jogo.


Esse gosto se estende ao adorno pessoal. Entre as tatuagens de Herchcovitch no braço, vê-se a longilínea e lúgubre imagem de Mortícia - a matriarca da família Addams, ou, se alguma vez tal personagem existiu, a "Senhora Morte" em pessoa. Ela é cativante, letal, uma das mais diverti­das integrantes da formidável companhia das anti-heroínas — da qual também fazem parte Barbarella, do filme de Roger Vadim, e Andrea, em Kika, de Pedro Almodóvar —, e sua forma esguia, erétil, em traje negro por onde escorre o cabelo em mechas, sugere um substituto feti-chista, como uma dominatrix. Tais figuras são personificações modernas da força dual de Eros e Tânatos, amor e morte. O corpo das personagens, envolto em trajes justos e pregueados que lembram uma fantasmagórica "segunda pele", torna-se o palco para os deslocamentos e as nega­ções do fetichismo.


A sexualidade homologada — a heterossexual e reprodutiva — vem sendo cada vez mais contes­tada na arte, na moda e na cultura popular. A sexualidade encontra expressão em formas que sub­vertem e caricaturam o corpo e seu vestuário. "A 'alteridade' de Andrea", escreve Anthony Shelton em Fetishism: Visualizing Power and Deslre, "é representada por um vestido preto em que dois cortes revelam seios artificiais dos quais goteja um reluzente sangue vermelho, enquanto seus cabelos são cobertos por uma rede de fios pretos, emborrachados e lustrosos".3 Os corpos de figu­ras como Andrea ou Mortícia parecem manipular e ser infinitamente manipuláveis. Na moda recen­te, como na arte, o desejo circula por todo o corpo, variando o foco da energia erótica.


Atualmente, não se poderia estabelecer uma relação de identidade entre moda e mulheres tão prontamente como fizeram Walter Benjamin e o poeta do século XIX Charles Baudelaire, um dos primeiros a abordar a moda com seriedade. Mudança quase tão importante quanto a ocorrida no fim do século XVIII — quando os homens renunciaram à cor — é a que se assiste em anos recen­tes, com extravagantes e ornamentais variações de estilo - e estilistas como Alexandre Herchcovitch hoje criam com o mesmo fervor inventivo para homens e mulheres. Além disso, com frequência e de forma singular, os desenhos não mais se limitam ao isso-ou-aquilo do vestuário convencional: os canais em que por séculos fluiu o "jeito de vestir" de homens e mulheres come­çam a convergir, ou, quando se separam, fazem-no em segmentos distintos. O género é fator mais complexo do que a certa altura pareceu ser, e a mais óbvia demonstração sexual observada no que vestimos tem uma relação altamente ambígua com a anatomia do masculino e do feminino.

1 Benjamin, Walter, The Árcades Project, Cambridge Mass., 1999, p. 62.

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