Sociedade do espetáculo
Guy Debord
"Quanto mais a vida do homem se torna o seu produto, mais ele se afasta da vida". ..
É impressionante a atualidade deste livro, ele relata com frases bem interessantes como é a vida nos dias de hoje, sendo que ele foi lançado em sua primeira edição no final da década de 60 e era tido como um livro mais Cult e depois se tornou um livro clássico em muitas partes do mundo. Acho que as pessoas começaram a se identificar com o espetáculo! Vive-se em época em que praticamente tudo o que acontece acaba virando espetáculo e evento de mídia. Se não está na mídia, não aconteceu. Se não é espetáculo, não existe.
A Sociedade parece estar imagética demais. Não que isso seja de tudo negativo, mas de fato a humanidade se mercantilizou de tal forma, que cada indivíduo se tornou um produto. Seja no trabalho, na festa, na convivência do dia –a – dia, a maioria das pessoas quer se exibir. Seja com suas roupas de marca, com seus carros importados e com suas jóias luxuosas. Esta sociedade se concentra muito mais no sentido da visão do que de qualquer outro.
Debord, fala de uma sociedade que quer ir além da onipresença dos meios de comunicação de massa, que representam somente o seu aspecto mais visível e mais superficial. Diríamos que ele quer se aprofundar na superficialidade.
O Grande Espetáculo consiste na seguinte questão : as pessoas desprovidas de privilégios, sendo eles financeiros ou intelectuais vivem uma vida real e por um motivo ou outro são influenciadas e acabam se sentindo obrigadas a participar da sociedade espetacular.Por exemplo:consumir, mesmo que seja pouco, mas de forma a participar da dimensão da novela, do artista, das imagens que os rodeia, da propaganda, do outdoor e de tudo de modo geral que lhes falta em sua existência real.
Neste ponto, seria importante mencionar o que mais tarde Lúcia Santaela chamaria de “seres noológicos”. Nossa cultura foi invadida por uma proliferação de imagens quase que patológica e seres biológicos foram trocados por seres impossíveis, participantes do espetáculo : uma modelo super artificial fazendo publicidade do próprio corpo e de outro determinado produto. Propafanda esta enganosa, já que as imagens publicitárias foram tomadas por softwers gráficos que “consertam” as imperfeições faciais e corporais das mulheres principalmente. Consertar o que? Esta é a pergunta.
Estes “seres noológicos” que povoam nossa sociedade estão muito mais presentes que pensamos, tanto que as mulheres querem beber a eterna fonte da juventude e não se modificar , como se viverem na terra do nunca... A própria convivência se tornou tão mais fácil ao teclar em seu computador e mandar um scrap para um amigo “imaginário” que você sequer conhece... Outras questões se aprofundam e temos a sensação de estarmos imersos na sociedade espetacular que Debord tanto fala.
As pessoas não saem de casa sem se preparar para o outro, sem tentar se parecer com algum artista, atleta ou celebridades em geral, e não percebem que estes são apenas personagens em seu próprio universo assim como cada um de nós que representa muito bem seu papel na sociedade, com direito a maquilagem, figurino e até intervenções cirúrgicas... A Imagem se funde na realidade, e todos começam a ter dificuldade de perceber aonde começa uma e termina a outra.
Vive-se praticamente em uma esquizofrenia coletiva! Os relacionamentos entre as pessoas, já não são mais mediados apenas pelas coisas, como no fetichismo da mercadoria, de que Marx e Freud tanto falavam, e sim, mediadas diretamente pelas imagens.
Tem-se influência 24 horas por dia: Revistas, jornais, televisão, internet... tudo permeia nossa vida; e a sociedade do espetáculo com todos esses aliados pode ser capaz de alterar o comportamento e até a aparência de todos. Os mais vulneráveis infelizmente são as mulheres e por vezes adolescentes. As mulheres principalmente, renegam o próprio corpo para seguir determinações, conselhos e “modismos” que na maioria das vezes são estúpidos. Qual é a dificuldade na aceitação do próprio corpo? A moda inclusive pode ajudar a adorná-lo da maneira que você decidir. As mulheres querem ser de plástico e não de carne. Querem a artificialidade como parte da sua vida...
O Espetáculo significa abstrair-se do mundo real. E é justamente isso que a lógica capitalista precisa. Se abstraia do real, crie seu personagem, obedeça o padrão vigente e consuma, consuma tudo o que puder consumir, Deixe que as pessoas lhe consumam, inclusive se consuma, afinal você também acaba de se tornar um produto nesta jogada..
Toda nossa sociedade só consegue se firmar a partir do espetáculo que cria sobre todos acontecimentos, fatos e por que não sobre a própria vida. Tudo o que era diretamente vivido esvaiu-se na fumaça da representação. As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e se fundem em um curso comum, de forma que a unidade da vida não mais pode ser restabelecida. A especialização das imagens do mundo acaba numa imagem independente, como se tivesse vida própria, em que o mentiroso mente a si próprio. E depois a todos. O espetáculo em geral, como inversão da vida, é o movimento independente da não-vida. E a não-vida; é a morte.
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, porém esta relação está sendo feita através de imagens. O conceito de espetáculo unifica e explica grande variedade dos fenômenos atuais. Segundo o autor, esta afirmação da aparência e de toda a vida humana é de certa forma fundamental, ou seja, o que vale é a versão e não o fato. Mas a crítica que atinge a verdade do espetáculo o descobre como um tipo de negação visível da vida; uma negação da vida que se tornou visível.
Nota-se o espetáculo como algo grandioso, positivo, indiscutível, inacessível e necessário.De certo modo: "o que aparece é bom, o que é bom aparece". Apesar desta afirmativa não ser de fato uma generalização, a conclusão é de que o espetáculo é o principal produto da sociedade atual.
Indo um pouco mais além, pode-se perceber que justamente a perda da unidade do mundo é a origem do espetáculo, e a globalização logicamente possibilitou tudo isso, já que o mundo em que vivemos é pura contradição, por um lado nos afasta fisicamente, por outro nos une virtualmente e imageticamente.
O que unifica os espectadores não é mais do que uma relação irreversível com o próprio centro que mantém o seu isolamento. Isto é, reúne mas não une.
Quanto mais o ser humano contempla, menos ele vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo . Ele parece ter que se inserir nestas imagens do dia-a-dia para se sentir parte da construção ou reconstrução da sociedade. O Ser humano não quer ser só, e para isso muitas vezes abdica de sua própria identidade para fazer parte de um grupo.
Vive-se em um mundo aonde a exteriorização nunca foi tão importante. Tenho que exteriorizar meu comportamento, meu gesto, meu corpo, minha roupa. Tenho que sair do meu próprio eu e ir de encontro ao espetáculo.
Aqui existe mais uma vez a dificuldade de manter nossos valores profundos, íntimos e pessoais, afinal a verdade e a transparência, que tornariam a vida realmente humana, foram banidas desta sociedade e os valores foram enterrados dentre os escombros da aparência e da mentira que separam ao invés de unir.
A Sociedade contemporânea, de fato é a sociedade do espetáculo e conseqüentemente da contradição. Somos nós, mas temos de ser personagens que muitas vezes inexistem dentro de nós.
Pelo menos existe uma luz no fim do túnel, já que apesar dos pesares sem estas imagens proliferadas nós nos sentiríamos isolados, incomunicáveis e insignificantes. Já que acima de tudo a nossa imagem, nosso corpo, nossa moda significa algo para alguém em determinada circunstância.
Bibliografia:
DEBORD.Guy. A sociedade do espetáculo.4a edição.RJ. Ed. Contraponto. 1997
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