Sobre A moda do corpo e o corpo da moda
Capítulo : Do corpo à moda : Exercício de uma prática estética de Káthia Castilho
Capítulo : Do corpo à moda : Exercício de uma prática estética de Káthia Castilho
O Corpo pode exercer vários atos de comunicação ou um discurso não verbal por expressão, postura, pelo caimento ou modelagem da roupa e por várias outras vertentes.
A moda e o corpo estão articulados nos sentidos de práticas sociais e logicamente no sentido da estética. O Vestuário obviamente inova o desenho do corpo e possibilita o destaque de uma determinada parte ou do todo.
Muitas vezes, a moda é uma linguagem que modela ou demonstra o corpo humano e quando se apropria dele promove inovações e intervenções que geram novos e diversos sentidos ao corpo.
Construindo significados na forma de se mostrar, o corpo é observado, exibido e pode ser visualizado em diversos contextos. O Corpo é praticamente um gerador de linguagens, assim como a moda. Aliás, a roupa fora do corpo exerce uma função e uma impressão bem diferenciada ao vestir este corpo.
Ao sobrepor o corpo, a moda faz dele o suporte ideal, nos quais, são consolidados os desejos das pessoas, atualizando e potencializando o discurso da roupa sobre o corpo.
O Olhar do outro é o primeiro contato que o corpo tem com o mundo. O Outro observa e cria uma imagem do corpo em exposição. E vice e versa, inclusive estratégias de comunicação, construção de sentido, de fragmento e de um todo são construídas através da percepção do próprio corpo ou do corpo do outro. Como diria a auto( Kastilho,2002): “A presença do outro, como corpo visível e sensível, com o qual podemos nos identificar, representa a cristalização do sentido que está sempre aberto a resignificações”.
O Papel da moda no universo corpo foi justamente aquele de amplidão do discurso não verbal que o corpo tem a oferecer. O Corpo, assim como a moda, de maneira geral oferece significados de sedução, potência, ameaça, diferenciação, etc... Articulando de formas múltiplas a sua forma de estar em cada contexto. Assim como a moda, o corpo precisa da temporalidade cronológica e de um lugar para existir nesse tempo, para seguir ou pertencer a determinados padrões e estruturas. O Corpo precisa do sujeito e do objeto para sobressair na cultura e no tempo, sejam eles quais forem.
Atualmente, de maneira inédita o corpo é suporte de intervenções artificiais que são tidas como geradores de significados e podem desencadear estados de disjunção, conjunção, construção, desconstrução e reconstrução, assim como a própria moda vem fazendo. A Autora fala a respeito de práticas que implicam em maneiras de modificações do corpo :
Essas práticas implicam na construção de narrativas diversas com o objetivo de produzir novas dinâmicas, válidas em uma determinada coletividade. O sujeito, por meio do corpo como suporte e meio de expressão, revela uma necessidade latente de querer significar, de reconstruir-se através de artifícios inéditos, geradores de significações novas e desencadeadoras de estados de conjunção ou disjunção com os valores pertinentes à sua cultura.Essas inúmeras maneiras de fabricar ou reconstruir o corpo se relacionam aos procedimentos de ordem estética ou de embelezamento pertinentes à motivação de decoração corpórea, quer estas sejam mutilações, pinturas sobre a pele, revestimentos ou sobreposições de adornos ou trajes. O estado de nudez nos remete à visão cristã de pureza, estado anterior ao pecado original, visto que o homem, quando inserido no contexto cultural, reveste e decora seu corpo potencializando sua dinâmica no processo da comunicação.
O corpo é, antes de tudo, um corpo imaginário: da parte mais sólida e interior, os ossos, à parte mais fluida e exterior, os cabelos, tudo no corpo se desenvolve a partir da imagem que uma cultura dele faz...
Outras questões que são importantes neste assunto são : a individualidade e o coletivo; quando fala -se do corpo, fala-se de duas questões, às vezes opostas às vezes “Unívocas”, e é essa contradição que muitas vezes intriga teóricos da moda e de outras áreas principalmente.Quando o assunto é contemporaneidade o foco recai certamente na palavra contradição. O Corpo pode satisfazer a si próprio ou ao outro ou aos dois ao mesmo tempo, afinal seus territórios são sem limites.
Quando são modificados, muitas vezes caem no aprisionamento do tempo. O corpo personifica e cria processos de personalidade em cada um, por isso ele tem uma maleabilidade incrível. Atualmente, cada indivíduo é como quer ser ou como o outro quer que ele seja. Ao tomar conhecimento do seu próprio corpo, o ser humano quer dotá-lo de novos significados através da expressão e principalmente da plasticidade.
Existe um corpo real e existe um corpo no imaginário de cada um. E cada ser humano determina qual corpo quer ter através da construção de sua própria identidade, como já mencionado.
A Autora faz um paralelo interessante quando aponta o corpo anatômico/analógico, que seria aquele desprovido de adorno e natural versus o corpo simbólico/semântico, aquele que busca na aparência apresentar-se sedutor, esculpido e construído daquela maneira propositalmente.
Ela ainda expõe o modo de pensar sobre o corpo inserido na nossa cultura ao reinventá-lo criando significações inovadoras e o exibindo de formas diferentes. Ao esconder e revelar diferentes partes do todo busca ampliar a significação do corpo enquanto comunicação simbólica não verbal. Pode-se concluir com as próprias palavras da autora:
Ela ainda expõe o modo de pensar sobre o corpo inserido na nossa cultura ao reinventá-lo criando significações inovadoras e o exibindo de formas diferentes. Ao esconder e revelar diferentes partes do todo busca ampliar a significação do corpo enquanto comunicação simbólica não verbal. Pode-se concluir com as próprias palavras da autora:
O vestuário se impõe por meio de uma estrutura plástica, fruto de relações entre a matéria-prima e sua textura, bem como em todas as relações variáveis, no aspecto do reconhecimento do sensível e da organização estética mediante sua inserção no tempo e no espaço, determinados pelo suporte (corpo) que se impõe. A composição visual dirige-se à nossa sensibilidade plástica muito antes do que ao conhecimento suposto.Sendo assim, parece-nos cabível a ideia de que o corpo humano é plasmado em seu conteúdo, no movimento e na expressão. Tais elementos numa linguagem plástica serão valorizados e demarcados nas suas diferentes partes. Fragmentam-se de acordo com cada cultura, que determina, através do tipo de exposição, a evidência ou não de determinados aspectos físicos, de determinadas partes do corpo que poderão, então, ser assinalados reconstruídos ou anulados através de elementos de decoração determinados pela moda.
Bibliografia :
CASTILHO.Káthia. A moda do corpo o corpo da moda. In: Do corpo à moda: Excercício de uma prática estética. São Paulo: Editora Esfera, 2002.
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